Talvez seja na Cultura que se verifica mais a ultraperiferia da Madeira, porque quanto ao resto, julgo que a Região, mais concretamente o Funchal, tem tudo o que as outras cidades europeias oferecem - claro que à sua escala.
A diferença e o peso de sermos ilhéus sentem-se mesmo é ao nível da Cultura.
Trazer grandes espectáculos à Madeira pode representar um risco considerável, já que há custos acrescidos com o transporte e alojamento. Para além disso, sermos poucos na ilha (250 mil) não garante, à partida, uma grande receita na bilheteira.
É por isso que muitos acontecimentos culturais passam à margem dos madeirenses, ou então estes têm de pagar 200 euros (!) só para chegar a Lisboa (mais caro do que ir a Londres, por exemplo) e assistir ao concerto/peça/bailado/etc. Claro que depois os madeirenses têm de juntar outros gastos (alojamento+refeições+bilhete+transportes+outros...) na deslocação.
Mas a verdade é que sempre que vêm acontecimentos culturais de grande valor à Madeira, a procura é muita, ultrapassando, por vezes, a oferta, o que já obrigou ao prolongamento por mais dias de alguns espectáculos.
Esta circunstância poderá quer dizer que o risco de vir à Madeira não será tão elevado como à partida pode parecer.
Tudo isto vem a propósito de alguns artistas que temos visto pelo Funchal ultimamente. Tivemos recentemente o Festival de Jazz na Quinta Magnólia, que foi mais um sucesso.
(tenho de confessar o mesmo gosto pessoal por este espectáculo. Não perco uma edição, apesar de, por motivos profissionais, já ter faltado alguns dias para minha tristeza).
Agora, temos o bailado no Teatro Baltazar Dias. Eu foui à estreia e fiquei realmente impressionado. Não com a primeira parte, feita por alunos da Companhia de Dança da Madeira - pareceu-me que todos precisavam de mais treino e profissionalismo. Mas sim com o que veio após o intervalo.
Os bailarinos Aysem Sunal, Marina Antonova, Nela González, Sara Anjo, Vanessa Henriques, Antonio Pérez, Ediz Ergüc, Gui Albouy e Mattias Strahm deixaram-me uma impressão muito positiva.
Tendo como base o bailado "La Bayadère"(um ballet em três actos, cuja história decorre na antiga Índia, onde o jovem guerreiro Solor vive um amor quase impossível com a bela Nikiya, sacerdotisa num templo hindu), os dois primeiros números desta segunda parte foram dedicados a este bailado.
Viu-se a interpretação de o "Reino das Sombras", a que se seguiu um "pas de deux" do Cisne Negro com Vanessa Henriques e Mattias Strahm; o solo "Tien Cuidado" com Nela González; outro "pas de deux" com Marina Antonova e Gui Albouy; mais um solo, desta vez com o bailarino Antonio Pérez; o tema "Ilusão" com Vanessa Henriques e Mattias Strahm; a "Bela Adormecida" (Dança Pedras Preciosas) com as bailarinas Vanessa Fernandes, Carolina Gomes, Vanessa Amaral e Sara Anjo.
Ao som do tango, Aysem Sunal e Ediz Ergüc fizeram um "pas de deux", enquanto que Marina Antonova e Gui Albouy interpretaram a coreografia "Corsário".
O fim esteve reservado para os bailarinos Nela González e Antonio Pérez
com o tema espanhol "Se me olvidó que te olvidé".
Neste momento, decorre o último espectáculo.
Desenho: www