Uma chamada de telemóvel atendida a bordo de um avião, pelo vice-presidente da Assembleia Legislativa Regional da Madeira (ALRM), Miguel de Sousa, no passado dia 22 de Junho, domingo, causou transtornos, atrasando a saída dos passageiros e obrigando o comandante da aeronave a solicitar a presença da polícia a bordo.
O avião que fazia a ligação Lisboa-Funchal tinha aterrado no Aeroporto Internacional da Madeira, por volta das 21h00, e encontrava-se na placa (local onde os aviões ficam imobilizados à espera de transporte) quando um telemóvel tocou na classe executiva. Miguel de Sousa, acabado de sair do Congresso do PSD onde foi eleito pela lista de Ferreira Leite para o cargo de vice-presidente da mesa, atendeu o telemóvel.
A acção valeu-lhe a repreenda por parte de um comissário de bordo, que advertiu o deputado social-democrata a desligar o telemóvel de imediato.
Versões diferentes
A partir deste ponto as versões divergem. Miguel de Sousa garantiu ao Expresso que desligou o telemóvel imediatamente e que o comportamento do comissário de bordo foi excessivo. "O procedimento foi excessivo, porque o avião já estava imobilizado na placa há algum tempo e fiz aquilo que todas as pessoas fazem, que é ligar o telemóvel".
O problema, segundo Miguel de Sousa, é o facto da transportadora açoriana ter um procedimento bastante distinto da TAP, apesar de voarem juntas. "Anteontem no voo Funchal-Lisboa, das 17h30, na chegada ao aeroporto, a chefe de cabine disse que havia um problema com a manga do avião e que iria haver um atraso. Então perguntei se podia usar o telemóvel e o pedido foi autorizado. Aquilo que a hospedeira da TAP disse que eu podia fazer, o funcionário da SATA chamou a polícia. Não percebo como é que duas companhias que operam em code-share têm procedimentos tão diferentes e os funcionários são completamente distintos no trato com os clientes, ainda que em todo o lado haja bons e maus".
"Passageiro desordeiro"
Os passageiros têm outra versão e garantem que Miguel de Sousa não só não acatou a ordem para desligar o telemóvel, como também pôs em causa a autoridade do comissário de bordo ao exigir a identificação do tripulante. Perante esta situação, e de acordo com as normas relativas a comportamentos desviantes em aeronaves, o comandante seguiu o procedimento. Solicitou a presença das autoridades a bordo e, pedindo calma, comunicou aos passageiros que iria haver um atraso, pois a Polícia havia sido chamada para "identificar um passageiro desordeiro", disseram testemunhas no local.
O porta-voz do Comando Regional confirmou ao Expresso que a Divisão de Segurança da PSP foi chamada a deslocar-se à aeronave, por solicitação da companhia aérea SATA. Mas ao chegar ao local, as autoridades acabaram por não identificar o alegado "desordeiro", tal como havia sido classificado pelo comandante minutos antes.
PSP dispensada
"Chegada ao local a acção da PSP foi dispensada pelo responsável máximo da aeronave, na medida em que o assunto que originara a nossa comparência, estava ultrapassado e sanado. A PSP não teve necessidade de identificar qualquer das partes".
Testemunhas referem que quando saíram do avião, Miguel de Sousa se encontrava no cockpit a falar com o comandante e com outros membros da tripulação. Recorde-se que Miguel de Sousa tem estatuto de imunidade parlamentar por ser deputado.
Miguel de Sousa diz que vai continuar a utilizar o telemóvel dentro do avião, dentro daquilo que lhe for autorizado. A este respeito o deputado do PSD diz que é crime fumar a bordo mas não é crime abrir o telemóvel quando o avião está imobilizado na pista.
"O que o Eng. José Sócrates fez é crime, o que eu fiz não é nada" até porque acrescenta "há dias telefonei a um comandante amigo para nos encontrarmos ao que ele me respondeu que ainda não tinha aterrado".
Texto da autoria integral do jornal Expresso