Três dos jovens da “new generation” que andaram a atacar crianças e idosos na baixa do Funchal pediram ontem «desculpa» aos visados pelos seus comportamentos e confessaram ao JORNAL da MADEIRA o receio de ir para uma «casa de correcção», já que o internamento é uma das medidas tutelares a que podem estar sujeitos. A acontecer, os miúdos teriam de ir para o continente, uma vez que o único estabelecimento deste género existente na Madeira continua de portas fechadas à espera que o processo seja desbloqueado.
Em declarações exclusivas ao JORNAL da MADEIRA, ontem, momentos antes de serem ouvidos pelo procurador da República no Tribunal de Família e Menores, três dos seis jovens suspeitos [há ainda mais quatro resultantes de novas diligências] acederam contar ao Jornal tudo o que se passou, sob o compromisso do anonimato.
Assumindo-se «bastante arrependidos», os jovens confirmaram o que a PSP havia comunicado na última sexta-feira sobre o “modus operandi” do grupo. Confessaram que atacavam as pessoas com compostos de produtos alimentares, havendo num caso o recurso à lixívia, filmavam tudo e depois colocavam as cenas no YouTube, através da conta de um deles.
Os três disseram ao JORNAL porque é que começaram com aquelas “brincadeiras” no início do Verão passado. «Era do tipo, como aquelas coisas que dá na televisão, uma espécie de praxes», disse um, negando, contudo, que fosse intenção deles magoar ou fazer mal às suas vítimas. «Era coisa do momento», justificou.
Os jovens, que nesta altura têm entre 14 e 17 anos, asseguraram que a ideia de fazer estes ataques partiu de «todos» e não de apenas um.
Os três garantiram também ter noção da gravidade dos actos praticados. «Tanto percebemos que já parámos», disseram.
Mas só terão tomado essa consciência, quando os pais descobriram o que andavam a fazer. Uns terão sido “apanhados” em Setembro de 2007, o que não impediu, contudo, que os outros continuassem até 20 de Dezembro do mesmo ano, dia do ataque com lixívia e molho de tomate ao 'astronauta', na Praça da Autonomia, tal como já noticiou o JM.
Ao que nos disseram, todos terão sido castigados pelos pais. «Cortaram-nos em tudo, no dinheiro, no telemóvel...».
Os três jovens que prestaram declarações ao JM asseguraram igualmente que não produziram qualquer vídeo este ano. E os que apareceram em 2008 terão sido feitos por um grupo de Santa Cruz, acusam. «Nem sabíamos [da sua existência], só soubemos quando vimos os vídeos na televisão», confessou um deles.
Os jovens pedem desculpa pelo que fizeram e receiam a mão pesada da Justiça, especialmente se a decisão for o internamento.
«Não fizemos bem, sabemos que foi grave, mas a casa de correcção é meio exagerado, porque estraga a vida de uma pessoa», argumenta um dos elementos da 'new generation'.
Os jovens não imaginavam a repercussão dos seus actos. «Nunca pensei que ia chegar a tanto», confessa um dos protagonistas deste caso muito mediático na comunicação social regional.
Os três juram que só no dia 20 de Dezembro recorreram a um produto tóxico, a lixívia, sendo que nas outras vezes usaram compostos de produtos alimentares.
«Polpa de tomate, ovos, farinha» eram alguns dos ingredientes dos “cocktails” produzidos. Garantem nunca ter usado creolina. «Nem sabemos o que é isso».
Os três jovens confirmam, por outro lado, a versão da mãe de uma das vítimas quando, em declarações ao JM, disse que os jovens tinham sido identificados em Fevereiro.
Também confessam o envio de mensagens para o filho da queixosa pedindo que fosse retirada a denúncia. «Foi uma amiga minha, que conhecia bem ele, mas não foi a meu pedido, ela é que agiu por conta própria», explicou um rapaz.
Os jovens negam, por outro lado, que escolhessem para vítimas só os mais fracos. «Isso é mentira. Já fizemos a pessoas de 30 anos, e elas correriam à nossa trás e nós tínhamos de fugir», conta.
Também rejeitam que tivessem produzido 60 vídeos. «Fizemos 15 a 20 vídeos», afirmam.
Os miúdos acusam ainda a direcção da escola (do Galeão) de os ter denunciado à PSP.
Agressores foram ontem ouvidos
no Tribunal de Família e Menores
Por outro lado, os seis suspeitos agressores da ‘new generation’ e várias testemunhas estiveram ontem a ser ouvidos pelo procurador do Ministério Público no Tribunal de Família e Menores.
Em declarações ao JM, o procurador Carlos Cardoso, disse apenas que durante os depoimentos os jovens mantiveram um «comportamento sereno e adequado», mas o JORNAL sabe que os suspeitos também foram colaborantes, ainda que o procurador tivesse recusado falar das declarações dos jovens.
Carlos Cardoso não desvendou o que disseram os jovens no depoimento, por estar abrangido pelo segredo de Justiça, mas adiantou, que os jovens, de um modo geral, «são generosos, capazes de assumir os actos que praticam e até de mostrar arrependimento».
Sobre o processo, o procurador disse que o primeiro contacto que teve foi durante o último fim-de-semana, na sequência das notícias vindas a lume sobre a prática de agressões, que eram filmadas e colocadas no YouTube.
Logo o procurador quis saber sobre o caso, mantendo «vários contactos com a PSP durante o fim-de-semana». Segunda-feira chegou-lhe às mãos o processo.
«Desde logo foram notificados os menores, todos os seis menores, os pais e foi também solicitado ao IRS [Instituto de Reinserção Social] a elaboração de relatórios sociais» sobre os jovens, contou o representante do MP.
Neste momento, o processo já está numa fase muito adiantada «e quero acreditar que vou concluí-lo talvez no decurso deste mês», disse. O procurador pode decidir pelo arquivamento, suspensão ou julgamento.
Refira-se que o processo para os jovens que tinham 16 anos à data dos factos está a decorrer no Ministério Público do Tribunal Judicial do Funchal.
Fonte: Texto da autoria integral do Jornal da Madeira